O Carnaval de Olinda é reconhecido mundo afora como uma das maiores festas de rua e por ser aberta ao público. Vendido pela organização do evento como parte da folia da Cidade Alta, o Carvalheira na Ladeira foge do popular e tradicional e mantém uma estrutura privada longe das ladeiras com um "alto padrão de serviços e shows", como diz na divulgação da festa. Neste domingo (26), os ingressos custavam R$ 500.
A festa é de fato padronizada e não abriga a diversidade ou espontaneidade do Carnaval olindense. Não há ladeiras, mas uma série de formalidades, camarotes VIP, um festival de pulseirinhas, e abadás que - apesar de customizados - não diferenciam as pessoas do público "padrão" que frequenta o evento.
A megaestrutura de 12 mil m² tem capacidade para 6 mil pessoas e todos os ingressos foram vendidos. A festa oferece garantia de conforto, segurança, open bar premium, praça de alimentação e banheiros. Lá, tudo é 'fácil': não há filas ou bebidas quentes por causa do sol. É tudo limpo e muito bonito. A organização oferece opções de restaurantes como a Subway, Spoleto, Domino’s, Fromage, Te quero coxinha, Mood, Cozinha Foodtruck e Laça Burguer.
Por volta das 12h, o Maestro Spok abriu as apresentações no palco do evento, que ainda estava vazio. O compositor até tentou animar o pessoal tocando frevo e músicas da cultura pernambucana, mas os frequentadores da Carvalheiras pareciam não estar interessados no som. No calor de meio-dia, o público era apático, frio até, constrastando com o calor da festa nas ladeiras do Sítio Histórico.
O piso da festa foi todo montado para que que o espaço fique plano e não tenha perigo de ninguém cair. Nas mãos, todos carregam copos ou taças padronizadas. Muito luxo e conforto, de fato, mas muitos poderão reclamar que não há o espírito carvanalesco, não há o contato que o frevo proporciona no 'ruge' das orquestras, o 'penar' nas ladeiras, muitas vezes responsáveis pelas melhores lembranças da folia. Em 2017, o Carvalheira na Ladeira acontece nos dias 25, 26, 27 e 28 de fevereiro, de sábado a terça-feira de Carnaval.
Na Internet, antes mesmo da chegada do Carnaval, o dualismo entre a folia "Raiz e Nutella" começaram a bombar nos perfis de Facebook. As diversas postagens brincam com o fato do folião "raiz" curtir a festa com suor, cerveja e blocos. Na versão "nutella", há a preferência pelo camarote VIP, ar-condicionado e Chandon. No Carvalheira na Ladeira, uma ação promocional chamou atenção. Muitas pessoas estavam com tatuagens provisórias com a frase "eu amo Chandon", referindo-se à famosa marca de espumante.
No camarote, que fica na área de cima da estrutura do que seria a 'pista', um dos frequentadores do evento disse à reportagem do LeiaJá que as pessoas que implicam com o Carvalheira é porque nunca foram em um evento da marca, enquanto tomava o gravador da mão desta repórter de maneira incoveniente. Para outra frequentadora, "É o melhor Carnaval. Acho que as pessoas falam mal porque é uma festa fechada, sem blocos, e por isso há um receio. Pra mim não deixa de ser um Carnaval".
De fato, participar do Carvalheira é uma experiência inovadora e diferenciada, com conforto e estrutura. Mas falta o charme das ladeiras, da folia feita na mistura de pessoas despadronizadas, nas expressões da cultura pernambucana como o frevo e o maracatu ou os afoxés. Falta a naturalidade das ruas.
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