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espaços exclusivos • 27/02/2017 - 08:03 • Atualizado em: 27/02/2017 - 19:05

Um dia no camarote VIP Carvalheira na Ladeira em Olinda

Vendido pela organização do evento como parte da folia da Cidade Alta, o Carvalheira na Ladeira foge do popular e tradicional e mantém uma estrutura privada longe das ladeiras

por Eduarda Esteves
Um dia no camarote VIP Carvalheira na Ladeira em OlindaUm dia no camarote VIP Carvalheira na Ladeira em OlindaPúblico dispõe de open bar e espaços diversificadosUm dia no camarote VIP da Carvalheira na Ladeira em OlindaAção publicitária distribuiu tatuagens temporárias com mensagens de amor a espumanteCamarote possui grande estruturaO oposto das ruas: no carvalheira, tudo é organizado e previsívelCamarote possui grande estruturaUm dia no camarote VIP Carvalheira na Ladeira em OlindaUm dia no camarote VIP da Carvalheira na Ladeira em OlindaUm dia no camarote VIP Carvalheira na Ladeira em OlindaUm dia no camarote VIP Carvalheira na Ladeira em Olinda
O Carnaval de Olinda é reconhecido mundo afora como uma das maiores festas de rua e por ser aberta ao público. Vendido pela organização do evento como parte da folia da Cidade Alta, o Carvalheira na Ladeira foge do popular e tradicional e mantém uma estrutura privada longe das ladeiras com um "alto padrão de serviços e shows", como diz na divulgação da festa. Neste domingo (26), os ingressos custavam R$ 500.
 
A festa é de fato padronizada e não abriga a diversidade ou espontaneidade do Carnaval olindense. Não há ladeiras, mas uma série de formalidades, camarotes VIP, um festival de pulseirinhas, e abadás que - apesar de customizados - não diferenciam as pessoas do público "padrão" que frequenta o evento. 
 
A megaestrutura de 12 mil m² tem capacidade para 6 mil pessoas e todos os ingressos foram vendidos. A festa oferece garantia de conforto, segurança, open bar premium, praça de alimentação e banheiros. Lá, tudo é 'fácil': não há filas ou bebidas quentes por causa do sol. É tudo limpo e muito bonito. A organização oferece opções de restaurantes como a Subway, Spoleto, Domino’s, Fromage, Te quero coxinha, Mood, Cozinha Foodtruck e Laça Burguer.
 
Por volta das 12h, o Maestro Spok abriu as apresentações no palco do evento, que ainda estava vazio. O compositor até tentou animar o pessoal tocando frevo e músicas da cultura pernambucana, mas os frequentadores da Carvalheiras pareciam não estar interessados no som. No calor de meio-dia, o público era apático, frio até, constrastando com o calor da festa nas ladeiras do Sítio Histórico.
 
O piso da festa foi todo montado para que que o espaço fique plano e não tenha perigo de ninguém cair. Nas mãos, todos carregam copos ou taças padronizadas. Muito luxo e conforto, de fato, mas muitos poderão reclamar que não há o espírito carvanalesco, não há o contato que o frevo proporciona no 'ruge' das orquestras, o 'penar' nas ladeiras, muitas vezes responsáveis pelas melhores lembranças da folia. Em 2017, o Carvalheira na Ladeira acontece nos dias 25, 26, 27 e 28 de fevereiro, de sábado a terça-feira de Carnaval.
 
Na Internet, antes mesmo da chegada do Carnaval, o dualismo entre a folia "Raiz e Nutella" começaram a bombar nos perfis de Facebook. As diversas postagens brincam com o fato do folião "raiz" curtir a festa com suor, cerveja e blocos. Na versão "nutella", há a preferência pelo camarote VIP, ar-condicionado e Chandon. No Carvalheira na Ladeira, uma ação promocional chamou atenção. Muitas pessoas estavam com tatuagens provisórias com a frase "eu amo Chandon", referindo-se à famosa marca de espumante.
 
No camarote, que fica na área de cima da estrutura do que seria a 'pista', um dos frequentadores do evento disse à reportagem do LeiaJá que as pessoas que implicam com o Carvalheira é porque nunca foram em um evento da marca, enquanto tomava o gravador da mão desta repórter de maneira incoveniente. Para outra frequentadora, "É o melhor Carnaval. Acho que as pessoas falam mal porque é uma festa fechada, sem blocos, e por isso há um receio. Pra mim não deixa de ser um Carnaval". 
 
De fato, participar do Carvalheira é uma experiência inovadora e diferenciada, com conforto e estrutura. Mas falta o charme das ladeiras, da folia feita na mistura de pessoas despadronizadas, nas expressões da cultura pernambucana como o frevo e o maracatu ou os afoxés. Falta a naturalidade das ruas.

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