
Com os olhos voltados ao chão, dezenas de homens e mulheres caminham entre as ruas de Recife e Olinda, durante as festividades carnavalescas. O som do frevo que alegra multidões, durante horas, não tira a atenção daqueles suam em pleno Carnaval. É preciso trabalhar para garantir o pão de cada dia da família. Para os catadores de latas de bebidas, o Carnaval representa muito mais do que um evento festivo: se para a maioria dos brasileiros o décimo terceiro salário vem em dezembro, para os catadores o bônus só surge após a folia.
Em entrevista ao LeiaJá, o presidente da Associação Meio Ambiente, Preservar e Educar (Amape), Sérgio Nascimento, destacou o quanto o Carnaval é importante para os catadores do Recife e Região Metropolitana. Segundo o presidente, esta é a época que rende mais dinheiro para os trabalhadores, que passam os dias da folia recolhendo latas e vendendo a preços que variam de R$ 2,70 a R$ 3,50 por quilo de alumínio.
Para Nascimento, além de representar uma época propícia para os catadores ganharem dinheiro, o período carnavalesco revela uma ajuda importante desses trabalhadores. “O Carnaval, além de ser uma festa bonita, precisa ser mais sustentável. É preciso ter um impacto menor de sujeira. Mas graças ao trabalho dos catadores, o serviço público gasta menos com funcionários para tirar a sujeira das ruas. Os catadores, conforme vão recolhendo as latas, ajudam a retirar o lixo das ruas”, diz o presidente da Amape.
Catadora desde a infância, Albanita Félix da Silva (foto abaixo), de 39 anos, é moradora do bairro de Santo Amaro, área central do Recife. De sacola nas mãos, ainda pela metade de latinhas, a trabalhadora conta que, neste ano, as pessoas estão mais educadas. “Este ano está melhor, porque as pessoas estão deixando as latinhas já nos cestos certos. Fica mais fácil para a gente recolher. Até agora está tudo tranquilo”, relata a trabalhadora. De acordo com ela, todo dinheiro arrecadado com as vendas das latinhas servirão para despesas dela e dos dois filhos.

Já Maria Cristina da Silva, 48 anos, não está tão otimista. “O Carnaval deste ano está muito fraco. Tem pouca lata e muito catador. Ano passado, nesse período, já tinha vendido uns R$ 800. Hoje, nem cheguei perto disso. Se eu vender R$ 400 vai ser muito”, explica a catadora. “É a crise que está demais”, completa.
Levantamento da Amape diz que, em 2017, 4 mil catadores estão trabalhando nos focos de folia, tanto no Recife quanto na Região Metropolitana. A previsão é que sejam recolhidas 20 toneladas de latinhas, gerando uma movimentação de R$ 800 mil. “Estamos trabalhando com uma média de faturamento de R$ 500 por trabalhador”, estima o presidente da Amape, Sérgio Nascimento.
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