
Em meio aos maracatus, que se apresentavam no Marco Zero, Bairro do Recife, nesta quinta (8), uma faixa branca protestava contra a vereadora Michele Collins. O pequeno ato, organizado pelo Quilombo Cultural Malunguinho, fazia referência a uma fala da legisladora, publicada em sua conta do Facebook recentemente, na qual ela dizia querer “quebrar toda a maldição de Iemanjá”. A faixa também pedia proteção ao orixá da religião de matriz africana em virtude da intolerância religiosa.
O coordenador do Quilombo Cultural Malunguinho e juremeiro Alexandre L’omi L’odò falou da escolha do evento para a realização do protesto: “É o momento mais propício porque aqui está reunido uma grande quantidade de povo do terreiro e nosso povo tem que aumentar e qualificar sua compreensão sobre o racismo religioso”. Alexandre classificou como “inadmissível” a postura da vereadora: “Ela merece ser punida pela lei do racismo porque um ato desse demonstra uma profunda violência contra a tradição de matriz africana. Isso é um crime, lesa a humanidade e não pode ficar do jeito que está. Se nos calarmos vai ser algo absurdo e nós não vamos deixar isso passar em vão”.
Apesar de ter escolhido o encontro de maracatus para o ato, pela estreita ligação da manifestação cultural com a religião de matriz africana, o juremeiro lamentou a falta de apoio das nações: “Os grupos de maracatu não se pronunciaram ao ver a faixa mostrando a falta de empoderamento, porque eram os principais a aproveitar esse palco aqui para combater isso e não achar que isso aqui é um momento bonitinho de folclore para enfeitar o Carnaval. Isso só demonstra nossa fragilidade, nossa dificuldade de compreensão do nosso lugar de fala”. Alexandre planeja ainda realizar outros protestos como este: “Vamos fazer diversos atos até que isso seja resolvido na justiça”.
Intolerância
Alexandre L’omi L’odò comentou que ele próprio já sofreu na pele eventos de racismo e intolerância religiosa. “A sensação é de total impunidade, você se sente indefeso e desprotegido pelo Estado. Você tem que tomar providência por você mesmo porque não se encontra praticamente apoio nenhum em nossas comunidades que ainda estão em processo de formação de entendimento disso”. Para ele, Pernambuco é um dos “piores” Estados no país em termos de políticas de promoção de igualdade racial: “Infelizmente a realidade é essa e tem que ser dita para que a gente possa avançar”.
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