As manifestações e protestos contra a postura considerada intolerante da vereadora Michele Collins (PP) seguem ganhando voz durante este Carnaval. Dessa vez, na noite deste domingo (11), as vaias direcionadas para a política vieram do Encontro dos Afoxés, no Pátio do Terço, área central do Recife. Polêmica teve início após uma postagem feita por ela no Facebook no último domingo (4), quando divulgou um evento evangélico que acontecia na Orla de Boa Viagem, Zona Sul do Recife, para, segundo ela, clamar e quebrar “toda maldição de Iemanjá lançada contra nossa terra”.
O presidente do Afoxé Omô Nilê Ogunjá, Dario Junior, fez uma breve pausa na apresentação do grupo e pediu união e mais respeito com os negros e povos de terreiros. “O país está completamente corrompido pelo racismo e pela intolerância religiosa. A esperança que nos resta está em nosso povo. A Câmara dos Vereadores já têm quase 70% de políticos evangélicos. Infelizmente tivemos um pronunciamento muito infeliz de uma vereadora que integra a Comissão de Direitos Humanos. Já está na hora dela sentir quem é o povo negro da atualidade. Estamos organizados e precisamos nos organizar mais ainda”, afirmou o representante do afoxé.
Presidente do Afoxé Omô Nilê Ogunjá pede vaias destinadas à Michele Collins (Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens)
Após a postagem, Collins se retratou, por meio de nota, e pediu desculpas aos representantes de religiões de matrizes africanas. Mas, os advogados Pedro Josephi e Danielle Portela, ambos do PSOL, protocolaram, na última quinta-feira (8), uma representação contra a vereadora na Comissão de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara do Recife. O documento apresentado à Casa José Mariano diz que ela cometeu crimes contra o sentimento religioso (art. 208 do Código Penal), de injúria (art. 140, § 3º do Código Penal) e de intolerância religiosa (previsto nos arts. 1º e 20 da Lei 7.716/89).
Mulheres do Candomblé contra o preconceito (Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens)
Para a mãe Ana de Oyá, o Carnaval é o momento de mostrar para o mundo a religião de matriz africana através da cultura. “A gente fica o ano todo sendo humilhado e guardando o que a gente é. Eu não posso ser negra e ser mulher toda hora. O racismo é muito grande, mas hoje, dentro do afoxé, eu posso fazer isso e ser quem sou. Eu tenho terreiro, sou mãe de santo e sofro muita intolerância religiosa. Quero ser livre e mostrar que sou do axé e do santo”, disse, após se apresentar na noite do Encontro dos Afoxés.
Em uma luta diária contra o preconceito, a apresentação dos afoxés contou com um grande público que aplaudiu e assistiu atento a todas apresentações da noite deste domingo (11). Cantora, mãe de santo, mulher e negra, a Mãe Andréa de Oyá ressaltou a importância da tradição do afoxé para a cultura pernambucana. “Somos responsáveis por levar nossas manifestações culturais para todos conhecerem. Queremos respeito. Essa é a nossa negritude e nossa força. É uma jornada muito intensa colocar todo mundo aqui hoje, não é fácil porque não temos ajuda e nem subsídios”, relatou.
Para ela, a apresentação é uma forma de engrandecer a religiosidade e mostrar o orgulho de vestir a bandeira do afoxé, não só para um público restrito, mas para todos os dispostos em conhecer e respeitar”, disse. Apesar do esforço, Mãe Andréa salienta que ainda é muito difícil conviver com preconceitos expostos, como o dos evangélicos, principalmente nas comunidades. “A gente coloca nossas vestes e nos olham tortos, nos chamando de macumbeiros. É um constrangimento e para combater isso, só com orgulho do que somos O afoxé é o candomblé nas ruas”, explicou.
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