O polo carnavalesco da Praça do Arsenal, no Recife, recebeu uma das mais importantes expressões indígenas da Festa de Momo. Na tarde deste domingo (23), dez grupos de caboclinhos da Região Metropolitana se apresentaram ao público, expressando suas danças e adereços regados a cores que encantaram os expectadores, ao mesmo tempo em que fortaleceu a tradicional manifestação.
Em seu vigésimo carnaval, a auxiliar administrativa Gleyce Kelly, de 30 anos, do grupo ‘Caboclinho Kapinawá’, sediado no Recife, mostrou, durante a apresentação, o firme elo que possui com a cultura carnavalesca. “Desde pequeno a gente se envolve com o caboclinho, até hoje minha família toda dança. Todo ano eu me apresento aqui. Antes do Carnaval, a gente trabalha, quando largamos vamos para a sede fazer as fantasias, e todos os domingos temos ensaios a partir de outubro”, disse Gleyce.
Para Valério Raimundo, 42, sua trajetória é a prova de quanto ama o grupo Kapinawá, que em 2020 completou 38 anos de existência. Desde pequeno eu vivo o caboclinho. Quando vi aquele grupo de pessoas dançando, fiquei apaixonado. Pedi para entrar, comecei como curumim e hoje estou como tocador há mais de 15 anos. O caboclinho representa para mim alegria e arte. Carnaval é dançar caboclinho, porque é onde eu represento a cultura de Pernambuco”, declarou o tocador.
A pesquisadora Claudia de Assis Rocha Lima, em texto publicado pela Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), explana a íntima relação dos grupos de caboclinhos com os povos indígenas. “Uma das mais belas manifestações do carnaval pernambucano está na evolução das tribos de caboclinhos que passam, quase que em disparada pelas ruas do centro e subúrbio ao som de um pequeno conjunto e na marcação das preacas a produzir um estalido característico na percussão da seta contra o arco, com seus estandartes esvoaçantes e a beleza de suas fantasias. Se no maracatu está toda a herança das nações de negros, no caboclinho vamos encontrar a presença do índio que, como primitivo dono da terra, mantém durante o carnaval as suas danças e lendas que contam a glória dos seus antepassados”, detalha a pesquisadora.
Com informações de Lara Torres
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