Nesta segunda-feira (24), o Pátio do Terço, no Centro do Recife, é o palco para que 20 maracatus de nação, todas de Pernambuco, se apresentem, cada uma com a sua singularidade. Tradicionalmente, desde a década de 60, o evento é realizado no local.
Além de celebrar a cultura tipicamente pernambucana, o encontro serve para que pessoas celebrem a memória dos seus ancestrais e negros escravos que foram responsáveis pela criação do maracatu. Todas as nações se reúnem no pátio e em ritual se dirigem à igreja do terço para tocarem. À meia-noite, uma cerimônia religiosa é realizada com as luzes apagadas e cantos serão entoados para os orixás.
Gilberto José de Santana, 59 anos, faz parte do Maracatu Estrela Brilhante de Igarassu, localizado na Região Metropolitana do Recife. Ele já é um tradicional participante da Noite dos Tambores Silenciosos e a sua paixão pela cultura é tanta que filhos, netos e outros familiares de Gilberto fazem parte do Estrela. "Minha história com o maracatu é muito antiga. Passou dos meus avós, que foram escravos, para os meus pais e dos meus pais para mim", revela.
Gilberto, que é porta estandarte da nação, revela que não tolera preconceito com o maracatu: "Eu fico doente. Eu debato com as pessoas porque não pode esculhambar a nossa cultura e a nossa religião. Eu tento explicar para essas pessoas a importância que o maracatu tem para muita gente", salienta.
Rosilda Justino, 61 anos, entrou para o maracatu Estrela Brilhante de Igarassu há 10 anos. Católica, a mulher explica que a sua religião não a impede de participar da nação e que as pessoas devem respeitar qualquer segmento religioso. "Existe o preconceito porque o maracatu e o candomblé vieram do negro. Nosso maracatu, por exemplo, não tem terreiro, mas cultua o candomblé e isso não impede que as pessoas, mesmo não sendo da religião, participem", explica.
Amanda Mirella, 32 anos, é rainha do Maracatu Encanto da Alegria, que fica no bairro de Água Fria, na Zona Norte do Recife. A mulher revela que começou na nação aos 19 anos e saía nas alas, ainda criança, como oxum, orixá do candomblé. Aos poucos foi se destacando até conseguir se firmar no posto de rainha há 4 anos. "Quando eu trabalho, a minha mãe é quem fica no meu lugar. Isso é um privilégio para ela enquanto eu estou na luta. Se eu não for desfilar, ela vai, mas a gente nunca deixa de representar o nosso maracatu", destaca Amanda.
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